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  • Foto do escritorAndré Sousa

A "Nova Ditadura"

A “Nova Ditadura”.

Se perguntarmos a alguém quando acabou a Ditadura em Portugal, essa pessoa dirá que terminou no dia 25 de Abril de 1974 juntamente com o Estado Novo criado pelo Dr. António de Oliveira Salazar e continuado pelo Professor Marcelo Caetano. Esta resposta está efetivamente certa. Porém, se questionarmos a esta mesma pessoa se atualmente vivemos numa ditadura, esta responder-nos-á possivelmente que vivemos numa democracia. A questão que coloco é a seguinte. Embora estejamos, a priori, numa sociedade democrática, vivemos numa sociedade onde somos livres de pensar e expressar como queremos?

A Ditadura que governou o Império Português era caracterizada por ser um regime opressor e autoritário que tinha controlo sobre a imprensa nacional, censurando tudo o que não fosse de encontro com os ideais defendidos pelo estado.


A meu ver, hodiernamente, existe uma ditadura diferente. Uma ditadura que não é assumida pelo estado. Uma ditadura escondida por detrás de discursos políticos. Uma ditadura onde a maior ferramenta de censura é o povo mal informado e de fácil manipulação. Uma ditadura mais sofisticada e de difícil perceção. Uma ditadura encoberta pelo politicamente correto. Podemos até chamá-la de “A Nova Ditadura”.

Eu digo isto, não como forma de atacar nenhum partido político, embora “sirva a carapuça” a muitos, mas como forma de abrir os olhos a quem acha que a nossa sociedade funciona de maneira justa e equalitária.

Esta “Nova Ditadura”, dentro do contexto português, é visível em vários pontos e acontecimentos na nossa sociedade. Neste post irei apenas me focar em alguns deles para não me alongar mais do que já o fiz.

Um destes acontecimentos está bastante claro na maneira como as notícias são dadas ao povo, onde há uma espécie de “manto santo” que protege o governo. Exemplo disto são os casos dos jornalistas Ana Leal e Camilo Lourenço. Neste artigo irei me concentrar no caso específico de Ana Leal.

A senhora Ana Leal é conhecida pela sua forte voz contra a corrupção e a injustiça social e estes atributos permitiram que ela tivesse um programa em horário nobre na TVI, “Ana Leal, Hoje” no Jornal das 8 (após trabalhar já há muitos anos nesta empresa). Pena que esta grande jornalista, bem como a sua equipa, tenha sido condicionada durante a elaboração de parte das reportagens, causando confrontos entre a jornalista e o canal televisivo. Um dos primeiros embates entre estas duas forças teve como causa uma reportagem sobre o SIRESP conhecido por todos nós, devido aos tristes incidentes de Pedrogão e do Pinhal de Leiria, que após 2 anos deste desastre continuava a falhar apesar do, alegado, investimento feito pelo governo português. Porém, o pior ainda estaria por vir no dia 24 de março de 2020 quando a jornalista anunciou a transmissão de uma reportagem acerca das falhas do estado português sobre a forma como tem lidado com a pandemia da Covid-19, especialmente ao nível da gestão do SNS. Porém, a TVI não permitiu que esta reportagem fosse emitida, alegando que, devido à altura de a reportagem ser durante uma pandemia, não era correto questionar o funcionamento do Serviço Nacional de Saúde. De seguida, a jornalista Ana Leal foi suspensa e consequentemente quebrado o vínculo entra a jornalista e a TVI.

Após uma reflexão sobre este assunto, considero este acontecimento censura (tendo a própria jornalista Ana Leal acusado a TVI de tal, segundo informações do Jornal I). Se analisarmos, com cuidado, é possível encontrar um padrão na causa dos conflitos entre Ana Leal e TVI, visto que sempre que a reportagem atacava diretamente o governo havia uma repreensão por parte do canal televisivo. Para além disso, o que mais me choca é a justificação da TVI para a não divulgação da reportagem sobre o SNS, já que é exatamente o que acontecia durante o Estado Novo. A notícia critica a administração do Serviço Nacional de Saúde, que está encarregue ao governo (que se recusou ao início fazer parcerias com hospitais privados), e a TVI não permite a sua emissão, citando: “Enquanto os incêndios não se apagam, não é hora de questionar os bombeiros.” Torna-se, assim, inquestionável e inabalável qualquer tipo de decisão tomada pelo governo. Não ignorando que apenas passados 2 meses deste escândalo, a TVI recebeu como apoio do Estado aos media nacionais perto de 3,5 milhões de euros, tendo apenas a Impresa, dona da SIC e do Expresso, recebido um valor tão alto quanto este (a SIC é outro caso que gostaria de analisar, futuramente, quanto a este assunto). Se isto não é censura, muito sinceramente, nada é censura.

Com isto, termino este primeiro post. Espero que tenha sido claro na apresentação dos factos, de maneira a poder demonstrar parte do estado deplorável da nossa sociedade. Tenho a ambição e vontade de poder continuar a escrever sobre este tema.

Por um Portugal justo e próspero.


André Sousa




(Editado dia 5 de Janeiro)

Nota: Este texto foi escrito dia 31 de Janeiro e dia 3 de fevereiro sai um estudo da revista The Economist e classifica a democracia portuguesa como democracia com falhas perdendo o estatuto de democracia plena, o que comprova que o texto acima tem algum fundamento.

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