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  • Foto do escritorJosé Marques

Eleições Presidenciais de 2021

Atualizado: 8 de fev. de 2021

No passado dia 24 de janeiro, aconteceram em Portugal as eleições presidenciais. Os portugueses saíram à rua, mesmo enfrentando os perigos da pandemia, para eleger, entre os candidatos, aquele que estaria à frente do País durante 5 anos. As eleições deste ano foram, inequivocamente, mais agressivas, mas não tão renhidas como as dos anos anteriores. Particularmente, este ano, houve um fenómeno, interessante e curioso, em que grande parte das atenções se viraram para o Dr. André Ventura, candidato assumido como antissistema e que, ironicamente, desejava jurar a constituição para, depois, a alterar, profundamente. Outro fenómeno curioso foi o facto do Partido Socialista não ter um candidato, fator que motivou uma inevitável divisão, desigual, do PS entre a Dra. Ana Gomes, o Professor Marcelo Rebelo de Sousa, o Dr. João Ferreira e a Dra. Marisa Matias. As eleições não foram renhidas, porque, ainda antes de se abrirem as campanhas eleitorais, já se sabia quem ganharia as eleições com maioria absoluta, à primeira volta. O seu mandato, inevitavelmente populista, constituído de afetos e moderação excessiva em diversos sentidos, garantiu, inequivocamente, a vitória ao Professor Marcelo. Normalmente, quando o Presidente da República se recandidata, ganha. Nestas eleições, este aspeto não foi exceção.

Quanto aos debates televisivos, queria começar por dizer que foi lastimável o que a SIC e a TVI fizeram ao candidato Vitorino Silva, vulgarmente conhecido por “Tino de Rans”. A SIC e a TVI não convidaram Vitorino Silva para qualquer debate. Contudo, o canal público (e ainda bem) RTP assumindo a realização dos debates entre os vários candidatos, integrou, assim, o até então marginalizado, Vitorino Silva. Procurando fazer uma breve síntese do que pude apreciar relativamente ao empenho dos vários candidatos, começarei com o vencedor, o Professor Marcelo Rebelo de Sousa. Foi um dos mais atacados, o que considero natural, pois é o atual Presidente. Porém, acho que fez debates com desempenho positivo e que não estávamos à espera, especialmente com o Dr. André Ventura e o Dr. Tiago Mayan. O professor catedrático de Direito demonstrou-se muito mais aguerrido com os candidatos à sua direita do que com os candidatos à sua esquerda. Em relação ao Dr. André Ventura, considero que começou mal os primeiros debates, nomeadamente com o Dr. João Ferreira. Não houve respeito nem pelo moderador, que parecia estar ausente, nem pelo público, mas o líder do Chega, rapidamente percebeu que começou mal e, inteligentemente, mudou a estratégia. Passou a preparar-se melhor para os debates, argumentando com as polémicas fotografias de que se fazia acompanhar, e começou a ouvir mais os seus adversários sem os interromper, sistematicamente. Os seus piores debates foram com o candidato da IL e com o candidato do PCP. Em relação ao Dr. Mayan, acho que começou os debates com muito nervosismo, fruto da sua pouca ativa experiência na política. Lentamente, foi ganhando firmeza e progredindo, um pouco, a sua forma de estar. Acho que a IL fez bem em arriscar num candidato pouco conhecido, de forma a lançá-lo, por exemplo, como futuro deputado. Contudo, tal risco pode ter-lhe saído caro, visto que o resultado foi manifestamente escasso comparando com o crescimento do partido IL. Também considero que o eleitorado da IL queria o Dr. João Cotrim de Figueiredo como candidato e não o Dr. Mayan. Relativamente à Dra. Ana Gomes, quero salientar o péssimo debate que fez com o professor Marcelo, repleto de ataques pessoais, associando-o, até, ao ex-banqueiro Dr. Ricardo Salgado. Lamentável e despropositado. A Dra. Ana Gomes, em meu entender, teve o apoio da ala mais extremada do PS. Os socialistas mais centrados e mais adeptos do verdadeiro exemplo do Dr. Mário Soares apoiaram o atual Presidente da República Portuguesa. Na sua generalidade, e do que conhecia, previamente, da candidata em questão, estava à espera de debates mais categóricos e sem interromper os adversários, o que, sistematicamente, fez. Em relação à Dra. Marisa Matias, acho que foi a grande desilusão desta campanha, inclusive para os membros do partido que a suportou, o Bloco de Esquerda. Os seus debates foram pautados pelas palavras “ambiente”, “lei de bases da saúde” e “precariedade”, mas sem especificar cada temática e esquecendo-se que a eleição em causa era para eleger o Presidente da República e não a Assembleia da República Portuguesa. Referindo-me ao Dr. João Ferreira, considero que fez debates respeitadores do adversário e com as ideias e fundamentos que estávamos à espera de um adversário comunista. Julgo que o Dr. João Ferreira será o próximo líder do PCP. Por fim, em referência ao candidato Vitorino Silva, acho que foi uma agradável e positiva surpresa. Demonstrou, desde cedo, ser um candidato assumidamente do povo e com muito valor. Nos debates, honrou o jogo democrático e com boa disposição, metáforas engraçadas e um discurso desenrascado, mas com algum interesse, pois apontou temas importantes e construiu opiniões bastante pertinentes.

Sobre a campanha, a candidata do BE diz que não daria posse a um governo apoiado pelo Chega, esquece-se que o Chega tem a mesma legitimidade constitucional que a do seu partido, pois ambos foram aceites pelo Tribunal Constitucional. Estas declarações de Marisa Matias só favorecem o Chega e os seus militantes.

Para mim, os dois aspetos negros destas eleições foram as polémicas declarações do Dr. André Ventura e os incidentes com o mesmo em Setúbal. Foi vergonhoso o que o Dr. André Ventura disse acerca de Jerónimo de Sousa ao compará-lo a um avô bêbado, atacando diretamente a sua honra, e também inadmissível ao fazer juízos de valor acerca da imagem exterior da Dra. Marisa Matias. É uma enorme falácia (falácia ad hominem) atacar a pessoa em vez dos argumentos que a mesma defende e ficou pessimamente mal ao Dr. André Ventura estas declarações e, no meu entender, custou-lhe votos. Quanto ao incidente em Setúbal, qualquer ato de violência é inadmissível. É de uma tamanha incoerência e hipocrisia ver pessoas a chamar fascista e antidemocrático ao Dr. André Ventura enquanto o apedrejam.

O esmagador vencedor desta eleição foi o Professor Marcelo com 60,7% das intenções de voto. Porém, outro inevitável vencedor desta eleição foi o Dr. André Ventura que conseguiu 11,9% das intenções de voto, crescendo comparativamente com os 1,29% que o seu partido teve nas eleições legislativas de 2019. A candidata Marisa Matias teve um resultado péssimo de 3,95% quando comparado com os 10,12% que obteve nas eleições presidenciais de 2016. O Dr. João Ferreira teve um resultado melhor que o candidato Edgar Silva do PCP às presidenciais de 2016.


José Alexandre Rodrigues Marques






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